Paredes em Transição

O movimento Paredes em Transição é uma rede de amigos que vivem na cidade de Paredes, no Norte de Portugal, que partilham a preocupação de que a debilitante dependência em combustíveis baratos de que a nossa sociedade e economia padecem – e que não está a receber a devida atenção dos vários governos, que parecem actuar na premissa de que o petróleo barato e abundante continuará por cá em perpetuidade – possa vir a resultar em graves e imprevisíveis problemas de que a tecnologia não conseguirá livrar-nos, e que poderão afectar muito negativamente o nosso futuro e o dos nossos filhos. Saiba mais no menu Projecto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Rita Afonso, a nossa professora de confecção de cosméticos naturais

A Rita Afonso, a nossa professora de confecção de cosméticos naturais, pertence à iniciativa de Transição em Linda-a-Velha, Oeiras, e tem a Liberdade como lema de vida. Tem uma paixão por ensinar o que sabe, e esta oficina que ela vai facilitar no dia 29 de Abril, aqui em Paredes, promete ser um sucesso!
Entrevistámo-la para saber que ingredientes usa, como os escolhe, sobre a sua participação em Linda-a-Velha em Transição, o que a faz correr... Aqui fica a entrevista:


Rita, como começaste a fazer cosméticos?
um pouco antes dos vinte descobri a prodigiosa vida do campo, na serra de Grândola - com o que cá chegou de alemães sonhadores, dissidentes do Maio de 68!!!
Também por essa altura voltei a aprender os prazeres mais simples que haviam de ter feito parte da minha infância e não fizeram, como fazer coroas de flores, tomar banho nas ribeiras e pintar o corpo com as cores que as pedras dão! A partir daí a minha vida nunca mais foi a mesma, nem a minha visão do mundo.
Tinha uma boa amiga cuja mãe sabia e sabe muito de plantas medicinais e ela foi a primeira pessoa a quem vi e ajudei a fazer cremes.
Depois disso, vivi nas Ilhas Canarias e então uma boa amiga passou-me uma receita "secreta", que supostamente se passava de mãe para filha. Uma amiga lhe ensinara e ela ensinou-me a mim. E eu, perdoe-me a tradição, que nasci desbocada e democrática, decidi partilhar aquele segredo com quem o quiser saber!!!

Que ingredientes usas?
Tenho predilecção pelo aloé, mas - como terei oportunidade de vos explicar- a lógica dos meus cremes é simples e abrangente. Todas as plantas medicinais com propriedades benignas para a pele são bem vindas.
A cera é um material extremamente nobre e polivalente, disponível na natureza e por isso usado de forma muito diversa por todas as culturas e ao longo dos tempos. Os egípicos usavam-na para o embalsamamento das múmias e os romanos na cerâmica e na escultura (uso que ainda se lhe dá). Nós utilizá-la-emos - como aliás, tantos antes de nós - para pomadas e unguentos, pelas suas propriedades físicas, e também medicinais - a cera é suavizante, protectora, calmante e anti-inflamatória e muito rica em vitamina A,  entre outras coisas.
O mel, que resulta ser outra maravilha da colmeia, é um grande aliado da pele e do cabelo pelas suas propriedades cicatrizantes, antibacterianas e anti-inflamatórias; mas também por ser um produto hidratante, remineralizante, suavizante e nutritivo.
 
Como escolhes os teus ingredientes?
Por norma gosto de usar plantas recolhidas por mim - porque me sinto bem, porque o vínculo criado com o processo inteiro é outro, porque amo as plantas - quanto ao resto escolho sempre biológico, pois a sua qualidade é superior e a ausência de químicos importante.


Que resultados tens obtido?
Como é óbvio, os resultados são bons! O aloé, o azeite e tudo o que tento colocar lá dentro (incluído o Amor!) são ingredientes muito nobres. Mas os tipos de pele e a definição dos usos é algo que deve ficar claro. Uma pele oleosa não gosta de um creme gordo, mas qualquer mão agradece! Tenho adeptos dos meus cremes, mas sobretudo, o resultado mais importante para mim é o empoderamento pessoal; que aqueles que aprendem possam, como eu, sentir-se mais capazes de preencher as suas necessidades sem fazer recurso a outrem, às lojas ou aos recursos ocultos dos outros. É bom sabermos fazer o nosso creme, o nosso óleo de massagem, o nosso pão ou o nosso cachecol. Volta a colocar em nós, pouco a pouco, o poder sobre a nossa vida e as nossas decisões/necessidades de consumo.

O que te faz correr?
Não corro, caminho! Mas o que me faz correr é paixão! Como não sentir o enorme entusiasmo de estar viva?

Como te meteste no movimento de Transição?
...Coisas da vida! O movimento de transição já se tinha tentado meter comigo, mas eu é que não lhe dei bola! Depois descobri com agrado que havia um 1º Curso de Iniciação à Permacultura cá em Linda-a-Velha e eu, que queria muito em breve voltar para o campo, fui fazê-lo. Deste então a aventura não parou. A iniciativa na qual estou não deixou de crescer e, por incrível que pareça, já nem sinto pressa de voltar ao campo, pois aqui está delicioso! 
Falando sério, este é um momento muito especial da Humanidade, um momento de viragem, de transição. É uma honra para mim estar aqui e agora. Sempre foi um anseio meu fazer alguma coisa para colaborar na mudança que ocorre. E o Movimento de Transição parece ter algo! Alguma coisas em nós faz sentido, muitas coisas neste movimento fazem sentido. E a minha vida, como a de quase toda a gente, precisa de fazer sentido.  Quero-me deitar cada noite cansada mas feliz por aquilo que escolho viver e a Transição é um projecto sensato e maduro, apesar de sonhador e incerto. Tem pés para andar, além de cabeça coração e mãos.
 
E o que esperas acrescentar com a tua participação?
O que espero acrescentar? Daquilo que tenho para dar, tudo.

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