Paredes em Transição

O movimento Paredes em Transição é uma rede de amigos que vivem na cidade de Paredes, no Norte de Portugal, que partilham a preocupação de que a debilitante dependência em combustíveis baratos de que a nossa sociedade e economia padecem – e que não está a receber a devida atenção dos vários governos, que parecem actuar na premissa de que o petróleo barato e abundante continuará por cá em perpetuidade – possa vir a resultar em graves e imprevisíveis problemas de que a tecnologia não conseguirá livrar-nos, e que poderão afectar muito negativamente o nosso futuro e o dos nossos filhos. Saiba mais no menu Projecto.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Festa de Encerramento da Feira da Primavera

No Sábado passado não pudemos deixar de passar pela festa de encerramento da Feira da Primavera, iniciativa organizada pelo Cantinho das Aromáticas, em Canidelo, Vila Nova de Gaia.
A feira já constava na nossa lista de coisas a fazer, mas por uma razão ou por outra fomos adiando, até que a última oportunidade chegou, e tínhamos mesmo que ir.



O que nos fez mover desta vez foi a apresentação sobre telhados verdes - assunto que nos interessa mesmo muito - por Isabel Cisneiros, da empresa Clorofila, de Figueira de Lorvão, próximo a Coimbra.
A Isabel detalhou muito bem os vários benefícios deste tipo de cobertura para os edifícios e para a comunidade em geral, evidenciando que esta pode ser uma opção atraente para quem tenha que reformular o seu telhado, mas o que parece ter tido maior aceitação até à data no nosso país - surpreendentemente - são as "paredes verdes", ou seja, paredes revestidas por vegetação viva, tendo a Isabel mostrado vários exemplos executados pela Clorofila.



Quanto à feira, só tenho mesmo é que me penitenciar por ainda não ter lá passado antes, uma vez que é um daqueles eventos a não perder em Vila Nova de Gaia. É um projecto que que se poderia enquadrar perfeitamente numa iniciativa de transição.



Parabéns ao Luís Alves, ao Pedro Rocha e restante equipa da Feira da Primavera. Prometo que não me esquecerei da Feira do Outono!

domingo, 27 de junho de 2010

Selecção Brasileira na Conferência da Transition Network 2010

Um dos grupos presentes na conferência da Transition Network 2010 que mais atenção despertou foi a delegação brasileira, composta por 8 transitioners no feminino: Isabela, Mónica, Sílvia, Taíza, Daniela, Maria Thereza, Zaida (a viver no Novo México, EUA) e May East (a viver na eco-aldeia de Findhorn, no Norte da Escócia). Com mais algumas pessoas oriundas do Brasil presentes na conferência, e considerando o Reino Unido como um todo, o Brasil foi, muito provavelmente, o segundo país mais representado neste evento!


Entrevista com Rob Hopkins

Esta selecção brasileira surpreendeu e, sem dúvida, deu que falar - não é por acaso que é referida por três vezes no blog de Rob Hopkins: Transition Culture. A alegria do grupo era contagiosa. Espalharam boa disposição e acabavam por atrair a si quem passava. Na última noite, foi possível escutar um grupo expressivo de participantes (que não falavam português) a contar com sotaque brasileiro!


O título da palestra que apresentaram no Domingo de manhã - “Is Transition in Brazil following the football road – created in England with the best players in Brazil?” - foi, aliás, considerado o melhor título na conferência. A presentação foi acompanhada por cocada e outros doces tradicionais brasileiros, mas a delícia era mesmo o conteúdo: menos de um ano depois de ter sido ministrado o primeiro curso sobre transição no Brasil, o movimento assiste a uma expansão surpreendente, com novas iniciativas a aparecer em vários pontos do país.


Especialmente surpreendentes foram os resultados conseguidos pela Transition Town Vila Brasilândia, no Estado de São Paulo, um movimento que à data da Conferência contava com menos de seis meses de existência. De acordo com os 12 ingredientes do modelo de transição, conseguiram, rapidamente, desenvolver manifestações práticas e visíveis dos projectos que tentaram implementar.

Mónica Picavea, da Trasition Town Vila Brasilândia


Penso que em Paredes poderemos aprender imenso com a experiência brasileira, e, sem dúvida, os protagonistas estão dispostos a ajudar-nos.

Meninas, um abraço transatlântico para vocês e muito sucesso para as várias iniciativas de transição no Brasil!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um copo de saúde…

Há dias, o movimento Paredes em Transição juntou alguns dos seus membros para se dedicarem a uma tarefa que será novidade para muitos: fazer concentrado de flor de Sabugueiro, vulgarmente conhecido como "elixir de sabugueiro"! Isso mesmo, aquelas árvores (Sambucus nigra) que vocês vêem nas bordas da estrada e que por volta desta altura (meses de Maio e Junho, sensivelmente) ficam em flor.
Ainda não sabem para que são usadas as flores e bagas de Sabugueiro?
Passem os dedinhos pelo teclado e descubram as suas indicações terapêuticas e os diferentes usos que lhes são dados. Acreditem, estão a ser desperdiçados…

Como tudo aconteceu…
A jornada teve início com a apanha da flor (obrigada mãe, pelo esforço)…
As flores apanhadas ficaram em água durante três dias, num sítio bem fresco, para libertarem o sumo das flores…


Depois, lá nos reunimos para pôr mãos à obra… Qual linha de montagem, o pessoal estava organizado e o trabalho fez-se num instante! Assim, uns espremeram limões, outros coaram a água e dois de nós mexeram o preparado.



Foi uma experiência agradável. Pode ver-se, estampada no nosso rosto, a verdadeira expressão de “alegria no trabalho”!



Como fizemos o nosso Elixir ou Sumo de Sabugueiro, passo a passo:
1. Começamos por coar todos os resíduos da água e reservamos o líquido que restou: limpo mas com um intenso e agradável aroma a sabugueiro.
2. À água coada juntámos açúcar e sumo de limão (1 litro de água por 1 Kg de açúcar e limões).
3. Estava, então, na hora de mexer o preparado: 15 minutos para a esquerda e 15 minutos para a direita (a mesma pessoa deve fazer este serviço durante cada período de 15 minutos…)
4. Depois, foi só verter o suminho para garrafas. Algumas congelaram-se, outras foram guardadas no frigorífico, prontas a servir.



Missão impossível? Nem por sombras:
Foi difícil? Nada.
Foi custoso? Bem pelo contrário.
Miúdos e graúdos juntaram-se e, com todos a ajudar, não levou mais de uma hora a dar a tarefa por concluída.
Uma missão bem possível, meus amigos… E para quem tiver limoeiros, bem barata… Os únicos gastos são os da água (se não for do poço) e o açúcar… As flores, essas encontram-se pelos campos fora, e são de quem as apanhar!

Como utilizar o Sumo de Sabugueiro…
O elixir que preparamos é um concentrado. Assim, deve preparar-se a bebida da mesma forma que fazemos com qualquer sumo concentrado: uma pequena porção de elixir (o fundo de um copo ou de uma jarra, conforme o caso), enchendo-se o resto do recipiente com água ou mesmo água com gás. As quantidades certas acabam por funcionar ao gosto de cada um: mais elixir para os mais gulosos, menos para os menos lambareiros…

Uma coisa é mais do que certa: fresquinho é uma delícia… Trata-se do caso, literalmente, de se juntar o útil ao agradável!
Um verdadeiro copo de saúde… com um gosto excelente!

The End of Suburbia Moment. Part 2

Durante a conferência tive a oportunidade de entrevistar Rob Hopkins e Peter Lipman, e questionei-os acerca das impressões com que ficaram após a apresentação de Nicole Foss (Stoneleigh). Por sorte, o Emílio Mula e a Sara Hammond do Nu-Project filmaram a entrevista.
Como digo no vídeo, na noite que se seguiu à apresentação de Stoneleigh não consegui evitar permanecer acordado na cama durante um bom par de horas, considerando e reconsiderando as implicações que a nova informação teria na minha vida, na minha família, na minha comunidade.
Ao momento em que tudo o que considerávamos como normal e incontornável nos é apresentado como algo profundamente errado, insustentável e prestes a terminar, Rob Hopkins chama "The End of Suburbia Moment". Nunca pensei que pudesse viver um "The End of Suburbia Moment. Part 2", mas aconteceu durante esta apresentação. E pelos vistos foi geral.
Fiquei extremamente surpreendido quando descobri que o Rob Hopkins escolheu este vídeo para encerrar a colectânea relativa à Conferência Transition Network 2010.
O título "One Question" revela a importância do tema.


Artigo de Shaun Chamberlin sobre a apresentação de Nicole Foss na Conferência da Transition Network 2010

Durante a conferência, uma das apresentações que mais me marcou foi, sem dúvida, a da bióloga/jurista Nicole Foss (também conhecida como Stoneleigh, editora no blog http://theautomaticearth.blogspot.com/). A apresentação, que teve por título: “Making Sense of the Financial Crisis in the Era of Peak Oil”, abordou o estado do sistema financeiro mundial e deixou-me profundamente abalado, assim como à metade dos participantes na conferência que a ela assistiram.

Shaun Chamberlin, autor do livro “The Transition Timeline” escreveu um artigo bastante descritivo desta apresentação e que, com o seu consentimento, traduzi para português. Aqui fica:

Cá estou, decidido a seguir o jogo de Inglaterra (Inglaterra-EUA) com a máxima atenção, mas ainda estou tão perturbado pela palestra desta tarde, por Stoneleigh, que sinto a necessidade de ordenar as ideias.

Incluindo a sessão de perguntas e respostas, a palestra durou cerca de 3 horas e cobriu uma área vasta, começando com uma boa revisão do problema do “pico das energias”, mas rapidamente passando a centrar-se na economia, que, na opinião da oradora, será o factor que mais dramaticamente determinará o futuro próximo. De notar que a palestra atraiu cerca de metade dos participantes na conferência, apesar dos vários eventos que decorriam em simultâneo.

A análise dela ajudou-me a transpor o fosso entre percepção e compreensão real. Não posso formar uma opinião genuína sobre um assunto sem antes ter escutado um argumento a favor de um ponto de vista e depois outro diametralmente oposto, e ter compreendido a origem da divergência de opiniões, de modo a formar a minha própria.

No caso do sistema financeiro, sempre me senti incapaz de chegar à origem da divergência entre os que prevêem um cataclismo para os próximos anos e os que argumentam que o sistema é bem mais resiliente do que os primeiros admitem.

O sentimento não desapareceu totalmente, mas hoje, na conferência, e ontem, durante a conversa que tivemos no bar até às 2 da manhã, a Nicole Foss (Stoneleigh) ajudou-me a transpor grandes fossos.

Ela acordou em enviar-me a apresentação que fez, mas, de qualquer modo, a sua opinião é de que estamos prestes a deslizar para a maior depressão económica que o Mundo jamais viu, causada pelo rebentamento da maior bolha financeira que o Mundo jamais viu. Isto, claro está, trará consequências de relevo para as pessoas, as famílias e as comunidades.

Consequentemente, o seu conselho N.º1 é “liberte-se das dívidas”, pois dívidas que hoje parecem facilmente suportáveis muito provavelmente deixarão de o ser, à medida que as taxas de juro sobem e o valor das propriedades se desmorona (talvez regressando aos valores que tinham por volta de 1970). No entretanto, as dívidas dos empréstimos à habitação permanecerão elevadas, deixando muita gente com um problema de património líquido negativo (negative equity) – em que o valor da dívida suplanta o valor patrimonial da habitação.

Ela também explicou o funcionamento do mercado de “derivados” de modo claro. Enquanto que muitos dos esquemas de fazer dinheiro se baseiam em cortar o bolo em fatias cada vez mais pequenas, o mercado de derivados baseia-se em outorgar direitos sobre fatias do bolo a cada vez mais pessoas. Quando o sistema estalar (o que não deixará de acontecer, uma vez que nem todos os titulares terão a possibilidade de provar o bolo), a maior parte do dinheiro que hoje circula no Mundo muito simplesmente deixará de existir, dando lugar a uma deflação de dimensões fenomenais. Passará a haver menos dinheiro em circulação relativamente aos bens existentes, de modo que o valor do dinheiro acabará mesmo por subir, enquanto os rendimentos descem. Como ela mencionou, o problema principal a ter em conta é a sustentabilidade orçamental (affordability) e não a inflação, deflação, salários em queda, ou outro qualquer problema. Que quantidade de bens úteis poderemos comprar com o dinheiro que temos?

Embora não tenha sido explícita, ela ordenou, em termos de risco, os tipos de activos em que poderemos investir. Começando com os mais desejáveis, a lista era, respectivamente:

Activos úteis: ferramentas e equipamento, terra, uma habitação em que desejemos mesmo viver, e que possam ajudar a gerar o que necessitaremos, etc…

Dinheiro: como a deflação deverá fazer com que o valor do dinheiro suba, ter dinheiro será uma coisa boa, mas o dinheiro depositado nos bancos muito provavelmente evaporar-se-á. Em resposta à inevitável pergunta sobre onde deveremos guardar o nosso dinheiro, a resposta que ela repetiu várias vezes foi “sejam criativos”.

Títulos de dívida pública: dado que manter uma quantia elevada de dinheiro vivo é pouco prático e propenso a levantar suspeições (para além de perigoso), ela sugere os Títulos de dívida pública como a maneira seguinte de aplicarmos o nosso capital.

Curiosamente, enquanto que ela acredita que possuir activos úteis e produtivos seja o passo mais importante (no fundo são a fonte da nossa capacidade de nos sustentarmos e à comunidade), também não deixou de mencionar que o preço de tais activos deverá baixar, à medida que a crise aperte.

Assim, sugeriu que uma possível linha de acção para aqueles que, no momento, não possam comprar activos úteis e produtivos (como terra) sem se endividarem, possa ser através da minimização da exposição aos efeitos da bancarrota, conservando o máximo de dinheiro possível para, mais tarde, poderem comprar mais barato. No entanto, aqueles que o possam fazer já não deverão perder tempo, pois mesmo que os seus activos venham a desvalorizar no futuro, isto terá pouco significado para quem tenciona mantê-los no longo prazo, ganhando o tempo necessário para poder aprender a usar estes activos produtivos antes que disso tenha necessidade.

Enquanto Nicole Foss dissertava, a assistência mantinha-se em silêncio e extremamente atenta, e podíamos observar as pessoas a ponderarem as implicações do que até então havia sido dito nos seus planos financeiros, das suas famílias e comunidades.

Uma pergunta pertinente veio de um presente que planeava iniciar um projecto comunitário de energias renováveis, para o qual teriam que recorrer a empréstimo bancário para adquirir os painéis fotovoltaicos, empréstimo esse que seria pago com base na tarifa bonificada garantida pelo Governo. A resposta de Stoneleigh foi que qualquer garantia do Governo a 20 ou 25 anos pouco mais valeria do que o papel em que é escrita, e que tais projectos deveriam ser levados a cabo sem o recurso a empréstimo bancário, caso contrário nem deveriam ser equacionados.

Acima de tudo, ela deu ênfase à urgência da situação em que nos encontramos, e que não deveremos esperar que a actual situação económica se venha a manter num período de dois anos.

Durante a conversa que tive com ela na Sexta-feira à noite questionei-a sobre o meu empréstimo de estudante, que é, actualmente, o mais benigno de todos os empréstimos imagináveis, com uma taxa de juro mais baixa do que a das contas à ordem livres de impostos. Ela disse que, mesmo assim, deveria tentar pagá-la o mais depressa possível, mesmo que para tal tivesse que empregar todo o dinheiro que tenho disponível, uma vez que o dinheiro no banco corre o risco de desaparecer, enquanto que as dívidas nunca desaparecerão. Na verdade, as nossas dívidas irão sendo vendidas sucessivamente, até descobrirmos que nos encontramos em dívida não ao banco onde originalmente fizemos o empréstimo, mas a alguma organização pouco recomendável.

Também conversámos sobre as melhores maneiras de enfrentar a difícil situação em que nos encontramos. Concordámos que os laços sociais são o mais valioso activo que poderemos ter, e que construir redes de confiança é o mais importante trabalho que poderemos fazer.

Ela mencionou o exemplo da Grande Depressão dos anos 30, em que, apesar da abundância de alimentos, combustíveis, recursos físicos e humanos, o sistema emperrou por causa da escassez de dinheiro que conectasse os vendedores aos compradores. Chegou-se ao ponto em que os agricultores deitavam fora leite de qualidade quando ao lado as pessoas passavam fome.

Isto fez-me lembrar de Mark Boyle, o “Homem sem Dinheiro” (the Moneyless Man), que acabei por conhecer há duas semanas atrás, no Uncivilisation Festival. A economia simples feita através de ofertas – ou Freeconomy – que ele pratica é exactamente o que era necessário naquela situação. Se os agricultores e os famintos pudessem ter confiado uns nos outros, um ser humano poderia ter alimentado outro sem que o dinheiro se metesse no meio, ou sem que qualquer tipo de transacção tivesse sido efectuada. E se o agricultor necessitasse de ajuda na sua quinta, talvez outros pudessem ajudar pelas mesmas razões. Talvez se ambas as necessidades coincidissem, talvez pudessem ter chegado a um acordo, mas onde não coincidissem, o simples desejo de ajudar o próximo, e a confiança de que outros ajudarão quando necessário, talvez tivesse posto aquela sociedade a funcionar novamente.

Mas como mencionado por Stoneleigh, a chave é construir a confiança com antecedência. Em tempos difíceis, os laços com aqueles em que confiamos tornam-se mais fortes, pois apoiamo-nos mais uns nos outros, mas do mesmo modo, a desconfiança para com aqueles fora do nosso círculo de relações poderá aumentar, pois poderemos suspeitar que eles só estão atrás do pouco que temos.

A transição sempre procurou alargar e fortalecer esses círculos, e ainda se afigura como o mais importante trabalho que poderemos fazer, mas Stoneleigh espera poder sugerir alguns ajustes aos nossos procedimentos, assim como reforçar o sentimento de urgência.

Alguns elementos ligados ao movimento de transição confidenciaram-me terem-se sentido algo abalados pela apresentação de Stoneleigh, mas, como ela teve a oportunidade de dizer, estamos no caminho certo. E o trabalho que fazemos é importante.

A apresentação de Stoneleigh encontra-se disponível aqui.

Ps. A Inglaterra empatou 1-1, mas, de qualquer modo, isso não me parece o mais importante que aprendi hoje!

Shaun Chamberlin é co-fundador do movimento Transtion Town Kingston, fundador do site http://www.darkoptimism.org/ e autor do livro The Transition Timeline.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Conferência Transition Network 2010 1.º Dia

Entre 11 e 14 de Junho tive a oportunidade de participar na conferência da Transition Network em Devon, no Sudoeste de Inglaterra.

Foi um evento memorável, para mim e estou certo de que para os outros 299 participantes provenientes de vários países. Foi refrescante confirmar que há por aí uma enorme comunidade de pessoas que partilham as nossas preocupações e que se estão a mexer para criar um futuro melhor.

O objectivo da conferência era juntar várias pessoas envolvidas em iniciativas de transição um pouco por todo o mundo, de modo a que tivesse lugar uma troca de experiências e juntos pudéssemos pensar o futuro do movimento de transição.

Passei por sentimentos contraditórios de orgulho e algum desconforto por ser o único representante do nosso país na conferência. Muitas vezes as pessoas abordavam-me a perguntar como ia o movimento de transição em Portugal, mas não tinha muito para lhes dizer. Ainda somos tão poucos! Por outro lado, temos um território virgem à nossa frente, e muito, muito trabalho que precisa de ser feito. A recompensa poderá ser a criação de comunidades onde poderemos criar os nossos filhos num ambiente que faça desabrochar o melhor que há neles, e não o contrário.

Em franco contraste com Portugal, o Brasil estava muito bem representado, com 9 participantes, incluindo um grupo de 6 pessoas que celebraram o primeiro aniversário do movimento no país com a participação na conferência. Foram criados bons laços entre os dois grupos (entenda-se o grupo deles e eu) e estou certo que poderemos aprender muito com a experiência deles. Temos amigos do outro lado do Atlântico prontos para nos ajudar.

Deixo aqui o video do primeiro dia da conferência, da autoria do Emílio Mula e da Sara Hammond, do Nu-Project, baseados em Totnes, onde, entre imagens dos vários eventos que decorreram nesse dia, e dos testemunhos de alguns participantes, Rob Hopkins, criador do conceito "Comunidades em Transição", explica os objectivos da conferência.


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Público - Paredes e Pombal ensaiam transição

O texto abaixo foi publicado no suplemento sobre arquitectura do jornal Público de Domingo, 13 de Junho. Foi uma enorme surpresa quando, alguns dias antes, recebemos o contacto do jornalista Carlos Filipe, que procurava informações sobre o movimento de transição em Portugal, uma vez que ainda não nos tínhamos aberto à comunidade, encontrando-nos, apenas, registados na Transition Network. O resultado da colaboração foi este artigo:


Experiências novas, de cultivo ou permuta de sementes, fabrico de pão e de iogurte e loja de trocas vão dando forma à resiliência das comunidades.

A ideia é sermos criativos, e será através dos actos individuais, ou colectivos, das sociedades, empresas, governos, e em qualquer sítio fértil, um pequeno campo, uma horta, que a experiência das cidades em transição começa a ganhar forma. Na Europa, Reino Unido, Austrália, Estados Unidos da América e também com indícios de movimento em Portugal.

"Temos que procurar projectos, mas pensar sempre de que energia precisamos para os fazer, ou para os reconverter, ou de os destruir. Caso contrário, não compensa. Para que não dependamos sempre dela [a energia gerada pelo petróleo]", diz Sabadell Artiga, que bebeu a inspiração de Rob Hopkins, professor inglês de Filosofia e precursor do movimento Transition Towns (TT), que iniciou em 2008. "Fui ouvi-lo a uma conferência na Escócia para falarmos sobre o Peak Oil. E foi um choque!", explica Artiga.

Este artista catalão, que dinamiza pela Europa o projecto Post Oil Cities, salienta a importância dos movimentos de comunidades, e da sua capacidade de superação de adversidades, da resiliência (capacidade de superar as adversidades, de voltar atrás, à forma original), palavra-chave usada por Hopkins, numa espécie de manual para a transição, na rede do movimento (www.transitionnetwork.org).

Em 2008, mais de 350 cidades em todo o mundo iniciaram processos de TT, através de acções simples, que pretendem envolver as comunidades locais e são agora desenvolvidas quase todos os dias. Em Março deste ano, a acção Vamos Limpar Portugal bem que se poderia inserir no processo TT. Outras acções podem assumir formas mais ou menos criativas, desde que não consumam energia. É essa a condição.

Em Portugal, já se dão passos nesse sentido. Mas é uma transição tranquila, conforme nota Miguel Leal, "para que não haja lugar a más interpretações, por parte da população ou do poder local": "São forças vivas cuja cooperação é vital para que esta iniciativa possa vingar e prosperar". O biólogo, de 39 anos, faz parte do Paredes em Transição, grupo de 20 amigos que ainda testa os seus conhecimentos em algo prosaico como fabricar pão.

São quase todos trintões, licenciados, e com as mais variadas profissões (professor universitário, técnico superior da administração local, consultor, bancário, arquitecto, economista, geógrafo, engenheiro). Para que o processo tenha sucesso, Miguel Leal considera que "é vital reconstruir a resiliência das nossas comunidades através de uma relocalização da economia, consumindo bens e energia produzidos localmente, apoiando os agricultores locais ao adquirir os seus produtos, frequentando o comércio tradicional, tentando reaprender certas técnicas de produção em vias de desaparição e cultivando a entreajuda entre os elementos da comunidade."

Como o têm feito? "Já tivemos várias actividades ligadas à produção de alimentos, trocas de sementes, plantas e alimentos por nós produzidos. A produção do próprio pão tem sido, aliás, uma mudança interessante para alguns de nós, e compramos grande parte das farinhas a um moleiro local, que mantém um moinho tradicional accionado pelas águas do rio Sousa", conta o biólogo, que adianta: "Já não compramos iogurtes, uma vez que os fazemos todas as noites. O próximo objectivo neste campo é passar a comprar o leite fresco directamente ao produtor."

João Leitão também se movimenta com um grupo de amigos, ainda que informalmente, mas em Abril já realizaram um colóquio em Pombal. "Estamos a idealizar uma horta comunitária e a co-organizar, com a Transition Network, o primeiro curso nacional de Iniciativas de Transição, que acontecerá em Outubro". O projecto da loja Coisas do Vizinho (troca de objectos), em Pombal, que considera uma das boas práticas de transição, dará também o seu contributo para fazer chegar às pessoas a ideia. "Estamos numa fase ainda na criação de parcerias com instituições, mas "a iniciativa já é imparável."C.F.


Domingo13/06/2010
http://jornal.publico.pt/noticia/13-06-2010/paredes-e-pombal-ensaiam-transicao-19581055.htm

domingo, 20 de junho de 2010

Uma Horta nas Alturas

A Primeira entrada…

O blog “Paredes em Transição” tardou em ver a luz do dia, e esta primeira entrada chega um pouco atrasada, mas dado que nos encontramos em plena quadra dos Santos Populares, não podemos deixar passar a oportunidade de partilhar esta experiência (e já verão porquê).
De acordo com um dos objectivos do movimento Paredes em Transição, que é incentivar as pessoas a cultivarem parte dos alimentos que consomem, iniciámos, há pouco mais de dois meses, o processo de criação de uma horta no nosso terraço. Esta entrada descreve as nossas tentativas, erros e sucessos.


Como um dos objectivos da experiência era conseguir produzir alimentos a baixo custo, usámos caixas de esferovite que nos foram cedidas na peixaria, que de outro modo iriam parar ao lixo. O custo das caixas: zero. Dada a quantidade de sardinha que se consome nesta quadra dos Santos Populares, estas caixas podem ser obtidas facilmente.



Foi um projecto em família, e para a nossa filha uma experiência completamente nova.


No início, tivemos que descobrir o balanço correcto de luz e sombra que as plantas necessitavam. Algumas acabaram por murchar, mas a esmagadora maioria sobreviveu e desenvolveu-se muito bem. Descobrimos uma das grandes vantagens das caixas de esferovite: permitem uma fácil e rápida reorganização do espaço.



Com o tempo,a horta começava a ganhar forma, e para a nossa filha, um novo mundo a descobrir.



Os pardais também descobriram os atractivos da nossa horta, e tivemos que recorrer a soluções para os desincentivar a transformar uma bela alface num talo desprovido de folhas.


Cada caixa contou com um cravo-túnico. Emprestam o colorido ao conjunto e são, supostamente, tóxicos para alguns nemátodos que parasitam as plantas.

A colecção de plantas aromáticas e condimentares já contava com oregãos, salsa, salva, tomilho, segurelha e cebolinho. Apenas a segurelha mostrou problemas de desenvolvimento.



Alfaces, acelgas, etc... 30 de Maio...


Alfaces, acelgas, etc... 21 de Junho.


Rabanetes. 30 de Maio...


Rabanetes. 21 de Junho.

A experiência tem sido proveitosa, e uma fonte de satisfação quer para nós, quer para a nossa filha. Nada como confeccionarmos uma salada com uma alface e um rabanete colhidos minutos antes. Oregãos, salva, salsa e coentros frescos têm servido para condimentar inúmeros pratos.
Acima de tudo, tem sido uma curva de aprendizagem para todos nós, e ainda há muito para vir!
Serve ainda para demonstrar que com alguma imaginação se consegue criar uma horta produtiva em pouco espaço e com muito pouco dinheiro. A maioria das plantas e sementes proveio de trocas com amigos e, curiosamente, foi a terra - comprada a saco - a componente mais onerosa deste projecto.
Tem valido bem a pena! Porque não tentar você também?