Gostava que me acompanhassem neste exercício:
Imaginemos que percorremos a Avenida da República (ou outro qualquer local de Paredes) daqui a 20 anos (quando eu estiver quase a fazer 60 anos!). Imaginemos que durante todos estes anos nada fizemos para mudar o curso dos acontecimentos e as coisas não aconteceram, de todo, como esperávamos. É 2030. Sucessivos Governos não nos prepararam em condições para enfrentar o fim dos combustíveis baratos (que acabou por nos bater à porta), e o efeito das alterações climáticas têm-se feito sentir da pior maneira. Dos efeitos da crise do sistema financeiro, então, é melhor nem falar. Ignorámos todos os sinais de alerta que iam aparecendo, e continuámos com as nossas vidinhas como se nada disto fosse connosco. E qual foi o resultado?
2030… Tentemos descobrir o que se passa em Paredes. Em que situação vivemos, qual a origem do sentimento de desânimo que se vê cunhado nas expressões das pessoas que passam… Como é que elas vivem? Como é que se dão entre si? Se conseguíssemos enviar uma mensagem de aviso para nós mesmos em 2010, o que é que diríamos? Onde é que errámos? Pensem nisto…
Voltemos agora ao presente e tratemos de digerir o aviso que nos chegou do futuro.
Viajemos de novo para o futuro, mas desta vez para um futuro onde as coisas correram bem. Imaginemos que percorremos a Avenida da República (ou outro qualquer local de Paredes) em 2030, e o sentimento geral à nossa volta é de um optimismo surpreendente. 20 anos atrás os cidadãos decidiram mobilizar-se para criar um futuro melhor, e as coisas acabaram mesmo por correr melhor do que se esperava. Paredes é uma comunidade em Transição bem sucedida, conseguimos dar resposta aos vários desafios e alterações que se nos foram deparando, e as surpresas agradáveis são muitas.
Imaginemos como é a nossa vida neste futuro desejável. O que se passa à nossa volta? As pessoas parecem felizes, contentes com as suas vidas… qual a origem deste sentimento? Qual a razão principal para as pessoas se sentirem assim?
Como comunidade em Transição bem sucedida, Paredes consegue viver bem com menos combustíveis de origem fóssil. O que mudou? Como se processa a mobilidade de pessoas e bens? Em 2030, como aquecemos as casas no Inverno? Como são os cuidados de saúde? O que se ensina nas escolas? Qual o aspecto da Avenida da República (ou qualquer outro local de Paredes que escolheram para esta viagem ao futuro)? O que se passa nos nossos jardins, hortas e vizinhança? O que aprendemos duramente até chegarmos aqui? O que é que nós próprios fizemos para ajudar a chegarmos a este ponto? Se conseguisse falar comigo mesmo em 2010, que mensagem deixaria que nos pudesse ajudar a preparar de forma positiva às mudanças que nos esperavam?
Regressemos, de novo, ao presente. Tentemos escutar os conselhos e conhecimentos que obtivemos do futuro. Em que é que este cenário difere do futuro negativo que visitámos anteriormente? Tentem ser objectivos e sistemáticos na vossa análise de comparação.
Se o exercício correu como esperado, neste momento todos estaremos de acordo que é essencial que nos mobilizemos para fazer qualquer coisa. JÁ!
Do mesmo modo que cheguei à conclusão que o modo de vida que levamos é manifestamente insustentável, e que, a dada altura terá, forçosamente, que dar de si, com as inconveniências que irremediavelmente trará às nossas vidas, à nossa família e à nossa comunidade, descobri que em alguns pontos do Globo grupos de cidadãos se organizam, ganham influência, agarram a atenção dos media, interagem com o poder local e conseguem levar a água ao seu moinho. Estes grupos, pouco a pouco, estão a conseguir recuperar algum controlo sobre o modo como as coisas se processam na sua comunidade. Estes grupos organizam-se nacionalmente e conseguem, sem um único press release, fazer-se acompanhar pelos media nacionais, fazer com que um Ministro (Ed Miliband, do Reino Unido) aceite o convite que lhe foi feito para participar numa conferência como "Ouvinte" (e não orador), ou que o Ministro que lhe sucedeu tivesse convidado os líderes do movimento para serem consultados no que toca à nova política nacional (do Reino Unido) de energia e combate às alterações climáticas.
Ao contrário da aparição de uma nova fonte de energia limpa que possa substituir o petróleo na escala em que o utilizamos, o que leram acima não é ficção. Aconteceu noutros locais e poderá ser replicado em muitos mais.
Já devem ter-se apercebido que estou a falar do Movimento de Transição.
Ao contrário do movimento ambientalista, que em 40 anos de luta pode contar muito poucas vitórias, o Movimento de Transição, com o seu modo peculiar de evitar recriminações e capitalizar na boa disposição e no enriquecimento pessoal dos intervenientes, desde 2006 que se espalha pelo mundo como rastilho de pólvora, com os resultados que já se podem ver.
Em Paredes temos tudo a nosso favor para conseguirmos fazer vingar este movimento: temos capital humano; temos um conjunto de boas cabeças; temos criatividade; iniciativa; temos instituições que já manifestaram vontade de colaborar connosco, só falta mesmo o SEU envolvimento.
Venha juntar-se a nós!
Este exercício foi baseado num outro desenvolvido por Hermione Elliott, da Transition Town Lewes, que se inspirou no livro: Life Changes through Imagework, de Dina Glouberman.
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