Paredes em Transição

O movimento Paredes em Transição é uma rede de amigos que vivem na cidade de Paredes, no Norte de Portugal, que partilham a preocupação de que a debilitante dependência em combustíveis baratos de que a nossa sociedade e economia padecem – e que não está a receber a devida atenção dos vários governos, que parecem actuar na premissa de que o petróleo barato e abundante continuará por cá em perpetuidade – possa vir a resultar em graves e imprevisíveis problemas de que a tecnologia não conseguirá livrar-nos, e que poderão afectar muito negativamente o nosso futuro e o dos nossos filhos. Saiba mais no menu Projecto.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Formação de um Grupo Iniciador

Rob Hopkins, fundador do movimento de Transição e autor do livro "The Transition Manual", está a reformular a metodologia para criação de Iniciativas de Transição, tendo substituido os "12 Passos para a Transição" por um conjunto de padrões comuns a todas as iniciativas de sucesso. Achei interessante e oportuno traduzir este, sobre a constituição do Grupo Iniciador do movimento:

As etapas iniciais de uma Iniciativa de Transição não se podem apoiar meramente no entusiasmo de uma pessoa isolada. Para que a Iniciativa tenha viabilidade no longo prazo, é essencial que se forme um grupo de pessoas que consiga levar o projecto avante. Estas pessoas deverão encontrar uma forma de conseguirem trabalhar em conjunto e produzirem resultados, e deverão ver o seu papel como catalisadores – pioneiros –, que desenvolvem a Iniciativa até um ponto a partir do qual deixam de ser necessários.

Texto Principal

Núcleos duros, grupos iniciadores, o que quer que seja que desejemos chamar-lhes, aparecem numa atraente diversidade de configurações. Os elementos poderão ter já colaborado em projectos anteriores, poderão conhecer-se socialmente, poderão ter-se aglutinado à volta de um pioneiro que decidiu criar uma iniciativa de Transição e convidou outros para se lhe juntarem, ou podem até ter aparecido depois de terem lido uma notícia num jornal.

Muitas vezes as pessoas estão extremamente interessadas em começar uma Iniciativa de Transição, mas deparam com dificuldades em encontrar outras pessoas que partilhem do seu entusiasmo. Neste contexto, talvez possamos aplicar algum pensamento lateral, e encontrar outros acessos para a comunidade. Lembro-me de, uma vez, ter perguntado ao Dr. David Fleming o que é que uma pessoa poderia fazer, se só pudesse fazer uma única coisa, para tornar a sua comunidade mais resiliente. Após uma longa pausa, respondeu-me: “Integrar o coro local”.

Assumindo que já está formado um grupo com vontade de construir uma Iniciativa de Transição, o que deverá acontecer em seguida? No livro ‘The Transition Handbook’, a ideia era “Formar um grupo iniciador e planear a sua dissolução desde o início”. Com isto queríamos tornar explícito a ideia de que, em muitos projectos comunitários, alguns membros do grupo iniciador acabam por permanecer demasiado tempo nos seus cargos, formando uma base de apoio a pessoas que melhor serviriam o grupo se se afastassem para permitir a entrada de sangue novo. Meg Wheatley coloca as coisas desta maneira:

“em auto-organização, as estruturas emergem por si. Não são impostas. Nascem do processo de criar trabalho. Estas estruturas serão úteis mas temporárias. Podemos esperar vê-las aparecer e desaparecer à medida das necessidades. Não é o planeamento de uma estrutura específica que requer a nossa atenção, mas antes as condições que propiciem a emergência destas estruturas que são necessárias”.

Esta ideia também tinha por objectivo proporcionar alguma tranquilidade àqueles que poderiam recear que o envolvimento numa Iniciativa de Transição se traduzisse numa dedicação prolongada, durante todo o projecto de relocalização e descarbonização da sua localidade, um Trabalho de Sísifo!

3 anos após o lançamento do livro “The Transition Handbook”, a ideia funcionou para alguns, mas não para outros. Durante o evento em que se apresentou à Comunidade, o grupo iníciador da iniciativa Transition Forest Row anunciou à assistência: “Nós chegámos até aqui, se querem dar continuidade a este projecto, esta é a vossa oportunidade para se envolverem”. No caso da Transition Town Lewes o grupo iniciador dissolveu-se literalmente, um processo que foi doloroso mas que trouxe novo vigor ao projecto.

Para outras iniciativas, a ideia de dissolver o grupo iniciador quando as coisas parecem ter adquirido momento e o grupo já se tinha acostumado a trabalhar em conjunto, soa a perfeito disparate. Não há um modelo imutável. O melhor modelo será o que funciona para cada grupo. No entanto, deixo algumas sugestões que poderão aumentar as hipóteses de sucesso de um grupo iniciador.

  • Tente recrutar um grupo diverso, reflectindo, o mais possível, a composição da comunidade. Continue a perguntar a si próprio: “Quem deveria estar cá que ainda não está?” Tente ter a maior diversidade de capacidades: financeiras, legais, organisacionais, bem como pessoas com bons contactos na comunidade.
  • Inclua alguém experiente em liderar reuniões, para facilitar as primeiras, de modo a criar bons hábitos desde o início.
  • Desce cedo, desenvolva e coloque por escrito alguns objectivos claros para o grupo.
  • Torne as suas reuniões em mais do que meras reuniões. No caso da Transition Town Totnes, as reuniões terminam, de um modo geral, com um almoço em que partilhamos o que cada um trouxe.

Com o tempo, a composição do grupo iniciador deverá evoluir de modo a que este, cada vez mais, inclua representantes de cada grupo de trabalho, de modo a que o processo de tomada de decisões dentro da Iniciativa de Transição seja liderada por pessoas que estão no terreno, a fazer com que as coisas aconteçam.

A Solução:

O seu grupo iniciador pode ter origem num largo leque de possibilidades; pode ser um grupo pré-existente que decide renascer como Iniciativa de Transição, pode ser um grupo de amigos, podem ser desconhecidos que se juntaram num evento ou através de um pedido de ajuda, podem até ser pessoas que convergem à volta de um indivíduo dinâmico e motivado. O principal é que o grupo encontre maneiras de trabalhar em conjunto, e que em vez de construir uma base de apoio que permita que alguém permaneça no poder, veja a sua missão como criar uma estrutura que outros virão a habitar.

As reuniões funcionarão muito melhor e serão muito mais produtivas se os participantes se comportarem com civilidade e interajam com respeito uns com os outros. Alguns membros com menos experiência em falarem para grupos podem precisar de apoio e experiência para intervirem em público. É vital que os princípios de Inclusão e Diversidade sejam tidos em mente. Com o tempo, o grupo iniciador evoluirá à volta do Conceito de Apoio a Projectos, assumindo o papel de apoiar o trabalho desenvolvido pelos projectos em curso. Poderá até descobrir que será bastante útil que a sua Iniciativa de Transição tenha um grupo Heart and Soul que ofereça Apoio Emocional/Evitar o Esgotamento aos membros do Grupo Iniciador.

3 comentários:

Manuela Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuela Araújo disse...

Obrigada, Miguel, pela tradução. Muito útil, mesmo para quem já leu o manual, que é o meu caso, quando o João Leitão mo enviou, o que já foi há uns largos meses... e é bom reavivar a memória, actualizando.

(Nota o comentário anterior era para o post seguinte)

issamenezes disse...

Adorei as novas Miguel!
Transition Brasil está com vocês.
Saudades!
Issa